Comunicado alusivo ao Dia do Médico

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Caros Colegas,

Celebramos hoje, dia 28 de Março,  o 28º Dia do Médico Moçambicano.

Os 28 anos hoje celebrados espelham anos de contínuo trabalho, glória e sacrifício. Foram tempos que tivemos que nascer, crescer e adaptarmo-nos para fazer face aos inúmeros desafios impostos pelo padrão epidemiológico das doenças no nosso país e seu contexto cultural, político económico e financeiro. Nascemos para criar um Sistema Nacional de Saúde (SNS), para podermos estar presentes o mais próximo possível de todo mocambiçano que necessite de assistência médica. Crescemos, de cerca de uma centena de médicos que fomos no período imediato pós independência para passarmos para cerca 4500 médicos e médicos dentistas, o que nos coloca com um rácio de 16 médicos por cada 100 mil habitantes. Este cenário está ainda longe de corresponder o recomendado pela OMS, de 100 médicos por cada 100 mil habitantes. Mais ainda, distante nos encontramos dos rácios, que possuem os países europeus, que rondam em 500 médicos ou mais,  por cada 100 mil habitantes. Por isso, não somos suficientes para cumprirmos esta honrosa tarefa de cuidarmos do próximo, estando a trabalhar muito mais que os nossos colegas em países onde os rácios são favoráveis. Apesar disso nunca vergamos, com o estoicismo que nos tem caracterizado estivemos, estamos e estaremos sempre presentes!

Caros Colegas, estimados companheiros e amigos,

Hoje, ao invés das habituais celebrações, todas canceladas, somos chamados para enfrentarmos um desafio novo: a Pandemia do Coronavirus.

Cabe-nos estarmos na linha da frente, na génese e divulgação de mensagens educativas,  na planificação de acções de contenção e resposta para o atendimento aos pacientes.  Contudo, esta primazia não deve ser interpretada como cabendo única e exclusivamente aos médicos o combate da catástrofe que potencialmente se avizinha. Devem estar envolvidos todos, repetimos todos os cidadão e instituições, para maximizar os ganhos neste processo.

A profissão médica e de profissional de saúde foi, sempre, e assim será, de risco. Eis que o médico contrai Tuberculose, HIV, Hepatite e demais infecções na sequência do exercício da sua actividade. Mas, esta pandemia afigura-se de longe mais assustadora, com maior capacidade de infectar e pôr em risco a vida do profissional como nunca sucedera antes.

Os números de profissionais de saúde infectados pelo coronavirus, em países onde as condições de trabalho são melhores que as nossas têm sido avassaladores. Na China, cerca de 3400 foram infectados, dos quais 13 morreram. Na Espanha, 5400 infectados são profissionais de saúde expostos, o que representa cerca de 14% do total de infecções. Na Itália e França entre 10 a 15 % dos infectados são profissionais de saude. Devem ser tidos em conta que os médicos e demais profissionais que assistem os pacientes, ficam expostos à quantidades maiores do vírus, o que provavelmente possa estar por detrás da elevada taxa de óbitos nesta classe de profissionais,  fugindo ao protótipo do padrão epidemiológico. 

Nestes mesmos países, por um lado, a tomada de medidas que quebrem a transmissão do vírus nas unidades sanitárias foi tardia, por outro a ausência, escasses ou reuso do Equipamento de Protecção Individual (EPI) têm sido apontados como causas deste horripilante desfecho.  Por isso, consideramos que devem ser aplicados imediatamente, todos os instrumentos que se destinem à  quebrar a cadeia de transmissão nas unidades sanitárias bem como oferecer protecção adequada aos médicos e suas equipas de trabalho.

A contaminação do médico e/ou dos membros da sua equipa piora a capacidade de resposta à esta grave situação.  O profissional de saúde, enquanto não for detectado o seu estado de portador, constitui um foco de disseminação, contribuindo para agravar sobremaneira o problema. Aquando da sua confirmação fica em quarentena reduzindo a já parca mão de obra disponível e tendo impacto desastroso na sua vida familiar e social.

Porém, nem por isso, nós médicos iremos desistir da nossa missão; o nosso exercício é sobretudo vocacional!

Como sempre, em momentos de crise como quando sucedeu no passado, durante a Guerra civil ou nas epidemias da cólera estivemos prontos, hoje também estamos. O desastroso cenário que existe potencial de acontecer assusta-nos; tememos pelas nossas vidas, dos nossos familiares e amigos. Mas, não nos tira a coragem de excer a nossa profissão, para assistir os nossos cidadãos com o melhor zelo, dedicação, profissionalismo e ética, por um bem que supera todos os ganhos que o ser humano ter: a vida e a saúde.

Carissimos colegas,

Como médicos e demais profissionais de saúde apelamos para o cumprimento rigoroso de todos os procedimentos que quebrem a cadeia de transmissão e protejam o profissional de saúde e a população em geral. Pois, sabemos que disso dependem as nossas vidas, dos nossos dependentes e o nosso contributo nesta batalha.

Para finalizar, apelamos para que estejamos preparados para vencer a COVID-19! Para que nos próximos anos estejamos todos juntos para contarmos a história desta batalha, na celebração de mais um dia do médico.

Obrigado!

Cidade de Maputo, 28 de Marco de 2020.

 

O Bastonário

Gilberto Manuel Manhiça, MD, MSc

(Médico Endocrinologista)

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