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A EUGÉNICA VISTA POR HITLER por Cordato de Noronha

A EUGÉNICA VISTA POR HITLER por Cordato de Noronha
Publicado em O Ilustrado, n.º 10, 15 de Agosto de 1933 >
 A Eugénica vista por Hitler, por Cordato de Noronha > 0185 e + “….alguma história nossa”

Cordato de Noronha, (Noronha, Rafael Cordato Miguel Saturnino de) (1900 Goa-1985 Lisboa), nasceu em Goa a 24 de Outubro de 1900. Na década de 20, estudou medicina Escola Médica de Goa ( uma das faculdades médicas mais antigas da Ásia, que existiu de maneira intermitente desde 1691 como “Aula de Medicina e Cirurgia” e ganhou estatuto de Escola Médica em 1842) e licenciou-se pela Universidade de Lisboa. Em 1928 foi nomeado como primeiro médico do então distrito de Inhambane,supervisionando todo o trabalho de saúde desta região, numa altura as visitas às áreas rurais eram feitas a cavalo. Em 1929, inaugurou o hospital da capital deste distrito ( o mesmo que ainda hoje lá está a funcionar , onde serviu como médico até 1961. Em 1938, especializou-se em oftalmologia em Paris. Trabalhou como Inspector dos Serviços de Saúde entre as décadas de 1950 e 1960 e exerceu oftalmologia no Serviço de Oftalmologia do Hospital Central da então Lourenço Marques. Já reformado, continuou a exercer clínica geral no Centro de Saúde do Bairro do Benfica, do Bairro dos Pescadores e depois de 1975, do Centro Saúde local de trabalho do bairro Central, onde atendia praticamente todos os profissionais dos órgãos de informação do Estado.  Cessou a sua actividade clínica com 84 anos de idade, tendo passado o seu último ano de vida a escrever, a pedido do MISAU e por incumbência do Professor Fernando Vaz, então vice-ministro da Saúde, uma contribuição para a história da medicina do nosso país, documento que ficou depositado no MISAU mas de que já não se encontra o paradeiro. Foi casado com Maria Helena  Vieira de Noronha, directora do Instituto de Educação e Serviço Social de 1962 a 1975 e após a Independência, nomeada directora pedagógica do MISAU, tendo contribuído para a definição das primeiras políticas de formação de quadros moçambicanos para a saúde e desenhado junto com a sua equipa os novos currículos e programas de formação deste sector, ao tempo do primeiro ministro da saúde de Moçambique  Professor Hélder Martins. Mais tarde trabalhou na criação no CRDS, onde trabalhou até 1987, altura em que foi contratada como cooperante moçambicana ( talvez a primeira e a única) pelo Ministério da Educação português, para a implementação da programa “ Entre Culturas” destinado a desenhar políticas de integração e currículos específicos para as escola com população maioritariamente africana em Portugal.

O artigo que apresentamos foi publicado em 1933, em plena época salazarista em Portugal e de ascensão do fascismo na Europa, na revista “O Ilustrado” (Empresa Tipográfica (Lourenço Marques), ed. com.Campos, Sobral de ca 18–, dir)., uma publicação que entre os anos de 1933 era editada numa tipografia 

localizada na Praça de 7 de Março, agora Praça dos Trabalhadores.Este ensaio, revela a opinião de Cordato sobre as teorias racistas de Adolf Hitler alguns meses depois deste efectivamente tomar o poder na Alemanha e muito antes da segunda guerra mundial. De facto, menos de dez anos depois da publicação deste artigo, milhões de judeus, ciganos, homossexuais, dissidentes políticos, doentes mentais e pessoas com patologias congénitas, foram mortos nos campos de concentração da Alemanha nazi, ao abrigo da política de extermínio a que Hitler chamava a “solução final”. Além de médico conhecido e estimado, Cordato de Noronha foi também colaborador, entre 1925 e 1929, da revista Seara Nova, uma revista de pendor universalista, anti-facciosa, compreensiva e crítica, dirigida pelo escritor e filósofo António Sérgio e que funcionou comonúcleo agregador e difusor das ideias de muitos intelectuais anti-salazaristas. A secção Oriental desta revista, criada e coordenada por Cordato de Noronha, visava contribuir para um debate intelectual (que este autor considerava civilizacional) pacifista entre a Europa e o Oriente, que ele considerava urgente num período ainda marcado pelos horrores da Primeira Guerra Mundial, mas em que já havia sinais alarmantes da ascensão fascista e expansionista na Europa, tornando necessário um questionamento sobre a ideia ocidental de civilização e a sua comparação com outros modelos de civilização existentes no mundo.

Devido à formação humanística dos médicos, ao seu contacto diário com pacientes e grupos menos privilegiados era (e ainda é) frequente, ao longo da história das sociedades, os médicos escreverem, tomando a defesa da ética e de políticas socialmente benéficas e justas para os cidadãos de determinada sociedade, naquilo que se pode considerar um acto de resistência a políticas autoritárias, pela via cultural. Os médicos moçambicanos não fogem a essa tendência, e inclusivamente já existe uma Associação de Médicos Escritores, fundada pelo Professor Hélder Martins. Para além de investigar, publicar e tirar mestrados e doutoramentos, escrever é um óptimo exercício de cidadania, porque afinal “nem só de pão vive o Homem”.

 

Maputo, 22 de Maio de 2018

António Bugalho
(médico hospitalar consultor)
Correspondência: bugalhoa@gmail.com